Sob uma perspectiva psicológica, a primeira compreensão que precisamos ter em mente é que a dependência química é uma patologia, uma doença. Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS), como o Código Internacional de Doenças (CID-10), classificam a dependência química como uma enfermidade incurável e progressiva, e que pode ser estacionada pela abstinência. Ou seja, assim como o diabetes, e a pressão alta, a dependência química é uma doença que deve ser tratada por toda vida. É justamente por isso, por exemplo, que é aconselhável ao dependente químico em tratamento, que evite lugares onde habitualmente ele consumia drogas.
Sabendo, então, que a dependência química é uma doença, como podemos identificar se alguém próximo de nós, algum familiar, amigo, ou se nós mesmo temos esta doença? Para isso, vamos pontuar algumas características que a Organização Mundial de saúde, descreve como sintomas da dependência:
Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência |
1 - Forte desejo ou compulsão para usar a substância. 2 - Dificuldade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quantidade. 3 - Presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento da mesma. 4 - Presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior. 5 - Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância. 6 - Persistência no uso, apesar das diversas conseqüências danosas. |
Bem, infelizmente, é muito comum que o dependente não reconheça a gravidade da situação, isto porque a negação também faz parte da patologia. O pensamento de que “está tudo sob controle”, ou “posso parar quando quiser”, ou “vou morrer de qualquer jeito” são justificativas usadas para negar a dependência.
Diante disso, precisamos saber que familiares e amigos têm um papel fundamental de estarem atentos e ajudar o usuário e dependente de álcool e outras drogas a reconhecer sua doença e buscar ajuda.
Alguns outros sinais, que sugerem o abuso e dependência de drogas podem ser: pupila dilatada, fome e sono desregulados, desinteresse pelas atividades habituais, descontrole no uso das finanças, entre outros comportamentos.
No caso do dependente não reconhecer sua situação, familiares, companheiros, ou amigos podem e devem buscar orientação e ajuda em locais especializados. E assim, começarem um acompanhamento, mesmo sem a presença do dependente.
O atendimento disponibilizado aos usuários e dependente de álcool e outras drogas incluem uma Rede de serviços, que propõem uma abordagem multidisciplinar, como preconiza a Política nacional, tal assistência é organizada pelo SUS Sistema Único de Saúde, e inclui: Programa de Saúde da Família, Programa de Agentes Comunitários de Saúde, CAPSad, Hospital Geral, no caso de Maringá, o atendimento é feito na Emergência Psiquiátrica do Hospital Municipal, e, em última instância, o Hospital Psiquiátrico.
Atualmente, temos também uma Rede de atendimento complementar que inclui as Comunidades Terapêuticas, os grupos de apoio como Narcóticos Anônimos, Alcóolicos Anônimos, Mão Amiga entre outras instituições.
O ideal seria que o tratamento fosse realizado em um ambiente extra-hospitalar, ou seja, sem o isolamento físico do dependente, porém, em alguns casos, a internação é necessária. É importante lembrar que cada indivíduo requer uma atenção particular, isto porque, não podemos determinar uma única forma de tratamento para todos os indivíduos. Como diz a frase: “Cada caso é um caso”.
Em todo o processo do tratamento, o acolhimento é muito importante, um grupo de familiares, amigos, ou instituições religiosas que apoiem o usuário. O sentimento de pertença, que eleva a auto-estima, é indispensável para o tratamento. Infelizmente, o que ocorre na maioria das vezes é a rotulação e a estereotipação do usuário, o afastamento das pessoas, o dependente fica com sua imagem denegrida.
Precisamos ter em mente que a dependência, o abuso e compulsão, infelizmente, sintomas comuns da sociedade pós-moderna, seja em compras, em jogos, em internet , em comida, em álcool e outras drogas. Estes comportamentos em níveis patológicos precisam ser prevenidos e tratados de forma acolhedora e contínua.
Neste processo, precisamos enfatizar também a co-dependência, isto é, o papel desempenhado pelas pessoas mais próximas do usuário, pais, irmãos, companheiros, que também precisam de acompanhamento, e que muitas vezes, acabam negando também a dependência. A dependência química não é uma doença contagiosa, mas contagiante, pois as pessoas ao redor tendem a se acostumar com a situação, achando que está tudo bem, ou que se trata de uma fase passageira apenas.
Depois de iniciado o tratamento, seja em modo de internação, ou ambulatorial, comumente acontecem as “recaídas”. Raros casos, o dependente abandona permanentemente o uso da substância, normalmente, ocorrem recaídas cada vez mais espaçadas. O importante é sempre lembrar que uma recaída não invalida o tratamento.
A prevenção sempre é a melhor forma de lidar com esta questão. Um bom diálogo, a transmissão de informações, e a criação de um espaço de confiança de fala, escuta, e troca de pontos de vista, é o essencial dentro da família, da escola, e das instituições de apoio.