segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Os primeiros 5 anos...

"[...] Considere-se, nesse sentido, a psicologia da criança nos primeiros cinco anos de vida. Trata-se, de um lado, de um período de grande novidade em termos de percepção e de resposta; a criança se encontra em contato imediato com as realidades arquetípicas da vida. Ela está no estágio poético original; há magníficos e terrificantes poderes transpessoais fervilhando em torno de todo e qualquer evento comum. Mas, por outro lado, a criança pode ser uma pequena fera egoísta, cheia de crueldade e dotada de insaciável voracidade. Freud descreveu o estágio da infância como um quadro de perversão polimorfa. Apesar de ser uma descrição brutal, nem por isso deixa de ser parcialmente verdadeira. A infância é inocente; mas também irresponsável. Portanto, traz em si todas as ambiguidades do fato de encontrar-se, ao mesmo tempo, firmemente ligada à psique arquetípica e às suas energias extrapessoais, e inconscientemente identificada, assim como irrealisticamente relacionada, a esta mesma psique arquetípica" (Edward F. Edinger, Ego e Arquétipo, 2012).

Os primeiros anos de vida de uma criança, são cheios de descobertas, e aventuras, é um período de intensa troca, consciente e inconsciente, de afetos, conceitos, aprendizagens e exemplos. É uma excelente oportunidade de desenvolvimento em todas as áreas, não somente para a criança, mas para todos que a cercam. Se pudermos nos permitir aprender, deixando nossa percepção e intuição ter mais espaço, certamente entenderemos mais sobre nós mesmos, e sobre as relações que compõem nosso universo.

Nesse sentido, vale a pena refletir, se a demanda e o desejo partem da criança, da mãe, do cuidador, ou de ambos. Igualmente, sobre o limite e a instrução diária. É interessante questionar, o quanto a criança se adapta ao meio familiar e social, e quanto tais pessoas se adaptam ao novo ser que chega.

E em meio à tantas descobertas e incertezas, nosso desafio continua o mesmo: EQUILÍBRIO.

Andressa Pires Martins Santana - Psicóloga Associada ao LÓTUS - Consultório de Psicologia

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Rede de Atenção ao Usuário de Álcool e outras Drogas


Quando vislumbramos a sociedade hodierna, percebemos que o avanço do uso indevido das drogas, da criminalidade envolvida no tráfico de tais substâncias ilícitas, e, principalmente, o sofrimento, o adoecimento e a morte de inúmeras pessoas devido ao uso abusivo do álcool e outras drogas, têm nos trazido desafios cada vez maiores, demandando uma busca incessante por soluções concretas capazes de reverter este infeliz quadro da sociedade.
Nesse contexto, faz-se de suma importância que governo, familiares, voluntários, profissionais e a comunidade em geral se unam com o propósito em comum, de propiciar saúde mental e física ao usuário/dependente e sua família. Dedicando-se, para isso, ao estudo, pesquisa, manejo e muito trabalho, visando a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas. Nesse sentido, o psicólogo, como profissional da área de saúde mental tem uma função peculiar no auxílio ao tratamento do usuário/dependente, principalmente no que toca o aspecto subjetivo da adição. Podendo lançar mão de estratégias psicoterápicas como atendimento individual e em grupo.  
Atualmente, sabemos que a Política Nacional em Saúde Mental tem direcionado a legislação brasileira, bem como as práticas em atenção biopsicossocial à população fundamentando-se, principalmente, nos conceitos de Direitos Humanos, atendimento integral e interdisciplinar, e Reforma Psiquiátrica. Tal diretriz fundamenta-se na Constituição de 88, que destacou a saúde como elemento essencial à vida digna do ser humano. E a efetivação deste princípio, deu se por meio da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Lei nº 8.080/90 e 8.142/90. (BRASIL, 2011)
De acordo com o Relatório de Gestão da Área Técnica da Saúde Mental do Ministério da Saúde (2007), esta nova política em saúde mental tem investido na permanência de leitos de atenção integral, os quais devem oferecer o acolhimento e acompanhamento para pacientes em crise, e que devem estar articulados com serviços de referências substitutivos para posterior encaminhamento.
Com relação aos usuários de álcool e outras drogas, a política em saúde mental também determinou ao SUS o cuidado com os dependentes químicos, devendo ser este, um atendimento que contemple integralmente, a saúde biopsicossocial. Nesse contexto, a abordagem é fundamental para o atendimento aos usuários, portanto, a proposta é que a desintoxicação do usuário seja realizada em serviços de emergência e enfermaria de hospitais gerais. E que o atendimento as pessoas usuárias de álcool e outras drogas, bem como seus familiares, recebam um atendimento integral e humanizado, realizado por equipes interdisciplinares, através de CAPS AD, hospital-dia, unidade de tratamento farmacodependência, serviço ambulatorial, e atendimento 24 horas, de acordo com a realidade do município. Até o ano de 2006 haviam 160 CAPS AD funcionando em todo o país.

[...] a necessidade de definição de estratégias específicas para a construção de uma rede pública de tratamento aos usuários de álcool e outras drogas, com ênfase também na reinserção social, levou o Ministério da Saúde a instituir, no âmbito do SUS, o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, já no ano de 2002. (Relatório de Gestão, 2007, p.39)

Ainda dentro desta rede de atenção do SUS, existe a possibilidade da internação do dependente tanto em hospital geral, como hospital psiquiátrico. Tal encaminhamento seria indicado em casos de intoxicação aguda, síndrome de abstinência grave ou comprometimentos clínicos de outra natureza. Seu foco central seria o afastamento temporário do usuário de seu meio. (PADEQ, 2009)
Além destes serviços supracitados, compondo a rede social de apoio complementar a rede SUS, especificamente no que tange a atenção aos usuários/dependentes de álcool e outras drogas, temos: grupos de mútua ajuda, comunidades terapêuticas, organizações em defesa dos direitos dos usuários, programas de emprego protegido, projetos de geração de renda, centros comunitários, e as casas de apoio. 
E como principais articuladores de toda esta Rede de Atenção, temos os ACS (Agentes Comunitários de Saúde) e o PSF (Programa da Saúde da Família). Não obstante, a política de saúde incita ainda, o desenvolvimento de ações integradas e intersetoriais nos campos da Educação, Cultura, Habitação, Assistência Social, Esporte, Trabalho e Lazer, em parcerias com Universidades, o Ministério Público, os Conselhos, as Organizações Não-Governamentais (ONGs) e a iniciativa privada, visando a melhoria da qualidade de vida, a inclusão social e a construção da cidadania.
As Comunidades Terapêuticas ocupam nesta esfera, um papel fundamental de opção de tratamento quando o acompanhamento extra-hospitalar for insuficiente. Isto porque, tais instituições oferecem um ambiente acolhedor, com ênfase na convivência entre pessoas com problemas semelhantes, e na abstinência, inclusive na retirada do usuário de seu meio de convívio habitual. Dentro desta perspectiva, voluntários, profissionais e patrocinadores precisam desenvolver um conjunto de ações de qualidade com a finalidade de prevenção, tratamento e reabilitação.

REFERÊNCIAS
AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.  

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde/DAPE. Saúde Mental no SUS: acesso ao tratamento e mudança do modelo de atenção. Relatório de Gestão 2003-2006. Ministério da Saúde: Brasília, janeiro de 2007.

BRASIL. Prevenção ao uso indevido de drogas: Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias. – 4. ed. – Brasília: Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, 2011. 

PADEQ. Comunidades Terapêuticas. Universidade Estadual de Maringá, 2009.



terça-feira, 13 de março de 2012

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PESSOAL E SUA IMPORTÂNCIA NA ATUALIDADE

                                      Valéria Abilas
                                                    Andressa Martins Santana

Em meio a um contexto pós-moderno, que requer cada vez mais dos indivíduos, esforço, dedicação, e uma prática eficiente e eficaz em meio à pressões familiares, profissionais, sociais, econômicas, e também pessoais; torna-se um desafio de grandes proporções, o alcance de uma organização pessoal condizente aos objetivos e metas do sujeito. Nesse sentido, Stock (2010), administradora pós-graduada em Pedagogia Empresarial e em Psicologia Organizacional, aponta que,


Planejar a carreira e a vida pessoal atualmente tem sido uma tarefa fundamental para qualquer pessoa independente da área em que atue, pois com as constantes mudanças do mercado, possuir a garantia de um emprego estável é uma ilusão. Considerando o cenário após a crise mundial que abalou as estruturas de mercado de trabalho em 2008 e 2009, esboça esta grande necessidade. Esse foi um momento que mostra o quanto é importante realizar um planejamento de carreira, seja para quem está entrando no mercado de trabalho, como para quem já possui uma carreira e deseja manter o nível de atratividade de seu currículo. Na vida pessoal a constatação expressa através de conquistas e realizações, mobilização para atingir sucesso e construir o seu futuro, por meio de um comportamento proativo, considerando seu ambiente atual e futuro (STOCK, 2010, p. 1).


Se buscarmos na grande área da administração, os conceitos e implicações do planejamento estratégico, entenderemos que, seu objetivo maior, seria oferecer bases seguras para que uma empresa tenha uma condução de sucesso, em meio às mudanças inerentes ao contexto vivido nos negócios. Para isso, intenta-se sempre avaliar os resultados obtidos no passado, seu contexto atual, e as possibilidades que se mostram à frente, a fim de tomar decisões acertadas, para que seja possível atingir com sucesso os objetivos e metas estipuladas.    

Segundo Chiavenato, um dos autores nacionais mais conhecidos e respeitados na área de Administração de Empresas e Recursos Humanos, “[...] o Planejamento Estratégico tem o objetivo de proporcionar bases necessárias para as manobras que permitam que as organizações naveguem e se perpetuem mesmo dentro de condições mutáveis cada vez mais adversas em seu contexto de negócios”.



Um bom Planejamento Estratégico, inclui a análise da situação atual, a análise do ambiente, a análise interna, a definição de objetivos e estratégias, a implementação da estratégia e o monitoramento e controle. Além disso, a análise a e organização das atividades entre urgentes e não urgentes, importantes e não importantes, também fazem parte de um Planejamento indispensável no que se refere a discriminar e executar as tarefas de maneira a focar prioridades.


Sendo assim, transpondo tal metodologia, para uma instância individual, o Planejamento Estratégico Pessoal pode ser visto como uma boa ferramenta, por viabilizar um norte à vida do indivíduo, onde as metas devem ser estabelecidas e guiadas pelas crenças, expectativas e análise geral de cada pessoa, de tal forma que enriqueça o desenvolvimento e sucesso nos negócios e na vida pessoal.


De acordo com Prado (2001), para a realização de um bom Planejamento Estratégico Pessoal, precisa-se estabelecer uma visão, explicitando o que se espera e acredita para o seu futuro, para isto, se faz necessário imaginar-se daqui a alguns anos; propor uma estratégia de ações considerando o ambiente para atingir os objetivos, respeitando os princípios, e visando cumprir a missão pessoal. Precisa-se também, delinear os objetivos, manter uma atitude empreendedora e o encorajamento para alcançar tais intentos. 

Sendo assim, diante deste cenário pós-moderno,[i] de falta de tempo; de falta de limites entre trabalho, lazer e estudos; de trabalho compulsivo, e, consequentemente, de stress (LIMA, 2004); um Planejamento Pessoal e uma boa autogestão se fazem indispensáveis, para que o indivíduo não se perca ante as múltiplas atividades que requerem sua dedicação. E assim, não venha a sucumbir à desorganização, à preocupação excessiva, à ansiedade patológica e ao desespero. Sintomas estes, tão comuns à muitas pessoas de nossa sociedade, infelizmente.  

O Planejamento Estratégico Pessoal, portanto, se mostra como recurso valoroso no que tange à sua implementação na vida pessoal. E acima de tudo, entende-se que, um bom Planejamento, com objetivos e metas claras, apresenta-se como um instrumento propiciador de organização, promovendo o alcance de resultados almejados com sucesso e eficácia, bem como a diminuição de preocupações e ansiedades excessivas, decorrentes do contexto pós-moderno, agitado e turbulento, em que se vive hoje. 




[i] Pós-modernidade: De acordo com Lima (2004, p. 1), “O mal-estar pós-moderno é visível e trivial, expressado na linguagem do cotidiano do trabalho compulsivo, muitas vezes vendido como se fosse “lazer” ou “ócio criativo”, que gera stress, a perversão, a depressão, a obesidade, o tédio. [...] Na pós-modernidade a perversão e o estresse são sintomas resultados da falta-de-lei, da falta-de-tempo, e da falta-de-perspectiva de futuro, porque tudo se desmoronou (do muro de Berlin a crença nos valores e na esperança). [...] Não é sem motivo que os lugares de trabalho em que a competição é mais acirrada, onde não existem limites definidos entre trabalho, estudo e lazer, que encontramos pessoas queixosas, infelizes, freqüentemente visitando os médicos e hospitais.”    



CHIAVENATO, Idalberto e Sapiro, Arão, Planejamento Estratégico – Fundamentos e Aplicações, Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda. 2004.
LIMA, Raymundo de. Para entender o pós-modernismo. Revista Espaço Acadêmico, n.35 abril/2004. Disponível em: < http://www.espacoacademico.com.br/035/35eraylima.htm>. Acesso em: 13 de dez. 2010.
PRADO, Lauro Jorge. Plano Estratégico Pessoal. Disponível em: <http://www.slideshare .net/ lauroprado/planejamento-estrategico-pessoal>. Acesso em: 30 de out. 2010.
STOCK, Fabiani Seibel. Planejamento De Carreira – Um Objetivo Pessoal Ou Um Destino Imposto Pelo Mercado De Trabalho? Publicado em: 05/04/2010. Disponível em: <http://www.artigonal.com/carreira-artigos/planejamento-de-carreira-um-objetivo-pessoal-ou-um-destino-imposto-pelo-mercado-de-trabalho-2102352.html>. Acesso em: 30 de out. 2010.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

ADOLESCENTES ENQUANTO AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS

De acordo com o artigo 103 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990), caracteriza-se como ato infracional a prática de crimes ou contravenções penais realizadas por adolescentes entre 12 a 18 anos. Tais indivíduos são considerados inimputáveis penalmente, sendo aplicadas então, as medidas sócio-educativas como pena diferenciada, uma vez que levam em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (ECA, Art. 100, 1990).
     As medidas sócio-educativas são aplicadas e operadas de acordo com a característica da infração, circunstâncias sócio-familiares e disponibilidade de programas e serviços em nível municipal, regional e estadual. A autoridade competente, nestes casos, sendo a Vara de Infância e Juventude poderá aplicar as seguintes medidas, dispostas no artigo 112 do ECA: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional.
    Quando abordado por autoridade policial, mediante denúncia ou flagrante, o adolescente, quando autor de ato infracional, é encaminhado à delegacia, onde será feito o boletim de ocorrência e auto de apreensão. Será comunicado o fato, a um dos pais ou responsáveis pelo adolescente, e encaminhado cópias dos documentos registrados ao representante do Ministério Público segundo artigo 176 do ECA. Em situações de flagrante, dependendo da gravidade do delito, o adolescente poderá ficar detido, e será encaminhado à internação provisória até a conclusão da sentença por um prazo máximo de quarenta e cinco dias (ECA, Art. 108, 1990).
           Cabe aos estados e ao Distrito Federal criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, a fim de atender tal população (ECA, Art. 145). O juiz da infância e juventude dará andamento ao processo, determinando posteriormente a sentença atribuída ao adolescente autor do ato infracional. A assistência judiciária gratuita será proporcionada a todos que dela necessitam, através de defensor público ou advogado nomeado, conforme o artigo 141 do ECA (1990).
         No que tange aos casos de medidas sócio-educativas, considerando o exposto anteriormente acerca das disposições do ECA, e do devido processo legal, em que o adolescente se encontra, a psicologia tem aqui uma posição fundamental no que diz respeito a defesa da garantia de integridade física, moral, intelectual e afetiva do adolescente, uma vez que a atuação psicológica deve estar atrelada ao objetivo de promover a saúde  mental do indivíduo, ou seja, de um completo estado de bem estar mental e social. Para tanto, o psicólogo deve estar à favor do bem público, dos direitos humanos, da justiça.     
            E quando se fala da criança e do adolescente, deve-se levar em consideração, o princípio da prioridade absoluta, visto que tais indivíduos encontram-se em uma etapa crucial de suas vidas, sendo considerados pela lei como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. Tal princípio é sustentado pelo artigo 227 da Constituição da República Federativa do Brasil,
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

            Deve-se lembrar também, que os adolescentes enquanto autores de ato infracional, continuam sendo adolescentes, continuam, portanto, em uma fase de condição peculiar de desenvolvimento, e devem ser tratados com absoluta prioridade. Nesse sentido, a psicologia deve atuar no sentido de promover a estes adolescentes, um melhor atendimento e tratamento se necessário. A fim de que ele permaneça, ou se porventura for retirado momentaneamente, ele volte à um convívio social adequado com todos os seus direitos e garantias assegurados.
            A autora Verani (1994) defende tal atuação do psicólogo. Uma vez que, a psicologia, segundo a autora, deve ter a finalidade de promover a saúde e o bem-estar da melhor forma possível ao adolescente. E para isso, atuar de forma a garantir a liberdade, e o convívio social saudável do adolescente, “Para mim, a Psicologia deveria ser um conhecimento ligado à liberdade, ligado à possibilidade do ser humano de se relacionar integralmente com o mundo. E essa relação só pode se dar em plena liberdade.” (VERANI, 1994)
            Nesse contexto, o autor Altoé (1994) ao citar o sociólogo francês Robert Castel, discorre sobre o processo de marginalização de crianças e adolescentes, processo este em que a dinâmica da exclusão que certos indivíduos enfrentam, se dá antes dos efeitos que a própria marginalização produz. E, apesar de reconhecer que a pobreza é um dos principais fatores, o autor afirma que ainda existem muitos outros elementos que caracterizam a marginalização, “[...] pense as situações marginais como o fim de um processo – a existência de um ‘afrouxamento ou desligamento na relação de trabalho e na relação de inserção relacional’. A relação relacional se refere à família, à vizinhança e amigos.” (ALTOÉ, 1994).
            Este processo de marginalização pode ser considerado, uma das conseqüências que a exclusão dos adolescentes internados causa a estes indivíduos, inclusive Altoé (1994) postula que esse processo se dá também com crianças e adolescentes institucionalizados.
Diante do exposto pôde-se concluir que, com as emergentes questões que envolvem o adolescente enquanto autor de ato infracional, torna-se imprescindível que se tome duas frentes de atuação. Uma, no sentido de prestar esclarecimentos à comunidade e a população em geral com intuito de desmistificar a questão que em torno destas situações. Bem como promover a discussão sobre o assunto a fim de elucidar conscientização destas pessoas, combatendo o preconceito, a estigmatização e a exclusão. E outra, no sentido de defender os direitos e oportunidades garantidas aos adolescentes, inclusive daqueles enquanto autores de ato infracional. 

REFERÊNCIAS

Torraca (org.)-VERANI, Sérgio de Souza. Alianças para liberdade. In:Psicologia e Instituições de Direito: a prática em questão, Rio de Janeiro, CRP-RJ /Comunicarte, 1994.

Torraca (org.)-ALTOÉ, Sonia Elizabete. O Processo de Marginalização de Crianças e Adolescentes. In:Psicologia e Instituições de Direito: a prática em questão, Rio de Janeiro, CRP-RJ /Comunicarte, 1994.

BRASIL. (1990) Estatuto da criança e do adolescente. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado, 2006.


Andressa Pires Martins Santana. Departamento de Psicologia.
Universidade Estadual de Maringá,  2008.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Abuso, Compulsão e Dependência Química


Sob uma perspectiva psicológica, a primeira compreensão que precisamos ter em mente é que a dependência química é uma patologia, uma doença. Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS), como o Código Internacional de Doenças (CID-10), classificam a dependência química como uma enfermidade incurável e progressiva, e que pode ser estacionada pela abstinência. Ou seja, assim como o diabetes, e a pressão alta, a dependência química é uma doença que deve ser tratada por toda vida. É justamente por isso, por exemplo, que é aconselhável ao dependente químico em tratamento, que evite lugares onde habitualmente ele consumia drogas.

Sabendo, então, que a dependência química é uma doença, como podemos identificar se alguém próximo de nós, algum familiar, amigo, ou se nós mesmo temos esta doença? Para isso, vamos pontuar algumas características que a Organização Mundial de saúde, descreve como sintomas da dependência:

Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência
1 - Forte desejo ou compulsão para usar a substância.
2 - Dificuldade em controlar o consumo da substância, em termos de início, término e quantidade.
3 - Presença da síndrome de abstinência ou uso da substância para evitar o aparecimento da mesma.
4 - Presença de tolerância, evidenciada pela necessidade de aumentar a quantidade para obter o mesmo efeito anterior.
5 - Abandono progressivo de outros interesses ou prazeres em prol do uso da substância.
6 - Persistência no uso, apesar das diversas conseqüências danosas.

Bem, infelizmente, é muito comum que o dependente não reconheça a gravidade da situação, isto porque a negação também faz parte da patologia. O pensamento de que “está tudo sob controle”, ou “posso parar quando quiser”, ou “vou morrer de qualquer jeito” são justificativas usadas para negar a dependência.

Diante disso, precisamos saber que familiares e amigos têm um papel fundamental de estarem atentos e ajudar o usuário e dependente de álcool e outras drogas a reconhecer sua doença e buscar ajuda.  

Alguns outros sinais, que sugerem o abuso e dependência de drogas podem ser: pupila dilatada, fome e sono desregulados, desinteresse pelas atividades habituais, descontrole no uso das finanças, entre outros comportamentos.

No caso do dependente não reconhecer sua situação, familiares, companheiros, ou amigos podem e devem buscar orientação e ajuda em locais especializados. E assim, começarem um acompanhamento, mesmo sem a presença do dependente.

O atendimento disponibilizado aos usuários e dependente de álcool e outras drogas incluem uma Rede de serviços, que propõem uma abordagem multidisciplinar, como preconiza a Política nacional, tal assistência é organizada pelo SUS Sistema Único de Saúde, e inclui:  Programa de Saúde da Família, Programa de Agentes Comunitários de Saúde, CAPSad, Hospital Geral, no caso de Maringá, o atendimento é feito na Emergência Psiquiátrica do Hospital Municipal, e, em última instância, o Hospital Psiquiátrico.

Atualmente, temos também uma Rede de atendimento complementar que inclui as Comunidades Terapêuticas, os grupos de apoio como Narcóticos Anônimos, Alcóolicos Anônimos, Mão Amiga entre outras instituições.

O ideal seria que o tratamento fosse realizado em um ambiente extra-hospitalar, ou seja, sem o isolamento físico do dependente, porém, em alguns casos, a internação é necessária. É importante lembrar que cada indivíduo requer uma atenção particular, isto porque, não podemos determinar uma única forma de tratamento para todos os indivíduos. Como diz a frase: “Cada caso é um caso”.

Em todo o processo do tratamento, o acolhimento é muito importante, um grupo de familiares, amigos, ou instituições religiosas que apoiem o usuário. O sentimento de pertença, que eleva a auto-estima, é indispensável para o tratamento. Infelizmente, o que ocorre na maioria das vezes é a rotulação e a estereotipação do usuário, o afastamento das pessoas, o dependente fica com sua imagem denegrida.

Precisamos ter em mente que a dependência, o abuso e compulsão, infelizmente, sintomas comuns da sociedade pós-moderna, seja em compras, em jogos, em internet , em comida, em álcool e outras drogas. Estes comportamentos em níveis patológicos precisam ser prevenidos e tratados de forma acolhedora e contínua.  

Neste processo, precisamos enfatizar também a co-dependência, isto é, o papel desempenhado pelas pessoas mais próximas do usuário, pais, irmãos, companheiros, que também precisam de acompanhamento, e que muitas vezes, acabam negando também a dependência. A dependência química não é uma doença contagiosa, mas contagiante, pois as pessoas ao redor tendem a se acostumar com a situação, achando que está tudo bem, ou que se trata de uma fase passageira apenas.

Depois de iniciado o tratamento, seja em modo de internação, ou ambulatorial, comumente acontecem as “recaídas”. Raros casos, o dependente abandona permanentemente o uso da substância, normalmente, ocorrem recaídas cada vez mais espaçadas. O importante é sempre lembrar que uma recaída não invalida o tratamento.

A prevenção sempre é a melhor forma de lidar com esta questão. Um bom diálogo, a transmissão de informações, e a criação de um espaço de confiança de fala, escuta, e troca de pontos de vista, é o essencial dentro da família, da escola, e das instituições de apoio.  

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Identificação como Processo de Aprendizagem

Atualmente, devido a todo um processo de desenvolvimento moral e ético da civilização, o ser humano já nasce imerso a uma sociedade repleta de normas e limites. E desde cedo tem de aprender a seguir cada uma dessas leis básicas de convivência[1]. E tal processo, de convívio social, dá-se, principalmente, por meio da identificação.

A identificação é o processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações (LAPLANCHE e PONTALIS, 2001, p. 226)[2].

 Freud (1921)[3] postula que este movimento de identificação tem uma importante significação na vida do indivíduo, uma vez que, esta seria a operação pela qual um sujeito humano se constitui. Esta apreensão iria também determinar a forma tomada pelo Ego, contribuindo no sentido de construir o 'caráter' deste Ego.
O Ego seria a instância psíquica, denominada por Freud, responsável por manter a integridade física e psíquica do indivíduo, em outras palavras, responsável por manter o organismo vivo. Sua constituição se daria mediante dois processos, um interior, como um aparelho adaptativo da personalidade interna em contato com a realidade exterior. E outro, de caráter exterior, produto de uma série de identificações com figuras representativas no decorrer de sua vida. Tais processos constituiriam a forma tomada pelo Ego, e da personalidade. Portanto, temos que, desde os primeiros anos de vida, a criança espelha-se em diversos tipos de modelos representativos, a fim de construir sua própria identidade, em um movimento dialético entre exterior e interior. Nas palavras de Freud, “Podemos apenas ver que a identificação esforça-se por moldar o próprio Ego de uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo.” (1921)[4].
O modelo eleito por cada criança irá ocupar o lugar de uma Imago[5] na mente do infante, servindo de referência e ideal a ser alcançado. As Imagos são elaboradas subjetivamente, percebido de acordo com o estado e a dinâmica do sujeito que apreende o outro como objeto. 
De acordo com o autor Charles Brenner (1973)[7], o processo da identificação tem uma enorme significação no desenvolvimento do Ego, e dependerá principalmente, das experiências do indivíduo. A tendência em procurar assemelhar-se a algo ou alguém representa uma parcela de grande importância nos relacionamentos interpessoais, bem como nos relacionamentos com os objetos em geral. Tal atitude já pode ser contemplada nos primeiros anos de vida, em que o bebê imita um sorriso, um balbucio, até chegar, mais tarde, à aquisição da linguagem. Tal processo dar-se-á continuamente ao longo da vida do ser humano, contudo, propende a tornar-se, em grande medida, inconsciente.  


MARTINS, Andressa Pires (et al). A Lei Paterna e o Paradigma na Construção da Identidade em Crianças e Adolescentes. Relatório Final de Pesquisa Docente, Núcleo de Estudos e Defesa de Direitos da Infância e da Juventude (NEDIJ), Universidade Estadual de Maringá, 2010.


[1] Citam-se aqui, a proibição do canibalismo, do incesto e do desejo de matar. E torna-se válido dizer que, com o tempo, novas regras começam a aparecer; a princípio derivadas dessas primeiras. No decorrer da evolução, surgem novos arranjos sociais e, portanto, novas exigências e necessidades de normas e é entre elas, que emerge com força a lei sobre a propriedade. Contudo, fica essa idéia a titulo de informação, pois não é este o foco dessa pesquisa.
[2] LAPLANCHE, Jean e PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise. Tradução Pedro Tamen, 4. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 226.
[3] FREUD, Sigmund. Psicologia de Grupo e a Análise do Ego (1921/1969). In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
[4] FREUD, Sigmund. Idem.
[5] A palavra imago se refere a uma representação inconsciente que uma pessoa tem de outrem, não devendo ser entendida necessariamente, como um reflexo do real. De acordo a definição de Laplanche e Pontalis, seria um “Protótipo inconsciente de personagens que orienta seletivamente a forma como o sujeito apreende o outro; é elaborado a partir das primeiras relações intersubjetivas reais e fantasísticas com o meio familiar” (2008, p. 234).
[7] BENNER, Charles. Noções Básicas de Psicanálise: Introdução à Psicologia Psicanalítica. 2. ed. Rio de Janeiro: IMAGO Editora, 1973. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

EDUCAÇÃO SEXUAL: PAPEL DA ESCOLA OU DA FAMÍLIA?

A princípio, deve-se saber que trabalhar o tema da sexualidade, não é fácil, mas um desafio tanto para família, quanto para escola. O importante é propiciar um clima de debate e discussão, que permita troca de pontos de vista, e dê liberdade para que qualquer tipo de dúvida possa ser esclarecida. Abordando todo tipo de assunto que permeie a vivência sexual, para que preconceitos e mitos sejam desconstruídos. Gerando assim, atitudes e concepções mais saudáveis e mais tranqüilas. Devemos caminhar para um relacionamento melhor entre pais e filhos, em que haja uma comunicação efetiva que permita o esclarecimento de dúvidas e que possibilite um compartilhar de sentimentos, emoções e experiências vividas. E acima de tudo, precisamos priorizar o respeito mútuo.

Importantes autores da Psicologia do Desenvolvimento, como John Bowlby, concordam que a qualidade do relacionamento familiar poderá influenciar emocionalmente na formação da personalidade do indivíduo. Além disso, Winnicott (2005), aponta que um ambiente suficientemente bom, que disponha afeto e cuidados à criança, são fundamentais para a constituição da subjetividade, e o desenvolvimento das habilidades necessárias para uma vida em comunidade. Em primeira instância, portanto, a educação sexual deve e começa em casa, pois será em casa que a criança apreenderá a base sólida para construir uma relação saudável com outra pessoa, e esta tarefa deve ser continuada pela escola. (SUPLICY, 1984).

A continuidade da Educação Sexual pela escola se explica pelo fato de que tal instituição é entendida hoje, como um espaço de esclarecimento de dúvidas e de formulação de questões, além de representar também, um espaço privilegiado para busca de possíveis soluções e de incentivo ao conhecimento. (BRAGA, 2002)

Em 1998, o Ministério da Educação incluiu a Orientação Sexual nos Parâmetros e Referenciais Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Neste documento, afirma-se a importância de que a escola possa oferecer um espaço específico para orientar, debater e tirar as dúvidas dos alunos sobre a sexualidade. (BRASIL, 1997) Isto porque, já se sabe que, a sexualidade constitui um dos elementos essenciais no processo de desenvolvimento humano. 

Sendo assim, a Educação Sexual na Escola deve objetivar, principalmente, abordar o assunto da sexualidade, das emoções e sentimentos envolvidos nos relacionamentos em geral, de forma positiva e saudável. Intentando-se, dessa forma, instigar os alunos a refletir e indagar sobre o tema transversal da sexualidade, e dentro desta temática, sobre as relações afetivas. Buscando sempre uma troca mútua de informações e esclarecimentos adequados no que tange à esta importante área do desenvolvimento humano.


REFERÊNCIAS


Bowlby, J. (1988). Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes.
BRAGA, E. R. M. SEXUALIDADE INFANTIL: UMA INVESTIGAÇÃO ACERCA DA CONCEPÇÃO DAS EDUCADORAS DE UMA CRECHE UNIVERSITÁRIA SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL. Assis, 2002. 195p. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Assis, Universidade Estadual Paulista.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
COSTA, Moacir. Sexualidade da Adolescência: Dilemas e Crescimento. 3. ed. São Paulo: L&PM Editores, 1986.
SUPLICY, MARTA. Conversando sobre sexo. Petrópolis: Vozes, 1984.
 WINNICOTT D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005.