sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Identificação como Processo de Aprendizagem

Atualmente, devido a todo um processo de desenvolvimento moral e ético da civilização, o ser humano já nasce imerso a uma sociedade repleta de normas e limites. E desde cedo tem de aprender a seguir cada uma dessas leis básicas de convivência[1]. E tal processo, de convívio social, dá-se, principalmente, por meio da identificação.

A identificação é o processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações (LAPLANCHE e PONTALIS, 2001, p. 226)[2].

 Freud (1921)[3] postula que este movimento de identificação tem uma importante significação na vida do indivíduo, uma vez que, esta seria a operação pela qual um sujeito humano se constitui. Esta apreensão iria também determinar a forma tomada pelo Ego, contribuindo no sentido de construir o 'caráter' deste Ego.
O Ego seria a instância psíquica, denominada por Freud, responsável por manter a integridade física e psíquica do indivíduo, em outras palavras, responsável por manter o organismo vivo. Sua constituição se daria mediante dois processos, um interior, como um aparelho adaptativo da personalidade interna em contato com a realidade exterior. E outro, de caráter exterior, produto de uma série de identificações com figuras representativas no decorrer de sua vida. Tais processos constituiriam a forma tomada pelo Ego, e da personalidade. Portanto, temos que, desde os primeiros anos de vida, a criança espelha-se em diversos tipos de modelos representativos, a fim de construir sua própria identidade, em um movimento dialético entre exterior e interior. Nas palavras de Freud, “Podemos apenas ver que a identificação esforça-se por moldar o próprio Ego de uma pessoa segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo.” (1921)[4].
O modelo eleito por cada criança irá ocupar o lugar de uma Imago[5] na mente do infante, servindo de referência e ideal a ser alcançado. As Imagos são elaboradas subjetivamente, percebido de acordo com o estado e a dinâmica do sujeito que apreende o outro como objeto. 
De acordo com o autor Charles Brenner (1973)[7], o processo da identificação tem uma enorme significação no desenvolvimento do Ego, e dependerá principalmente, das experiências do indivíduo. A tendência em procurar assemelhar-se a algo ou alguém representa uma parcela de grande importância nos relacionamentos interpessoais, bem como nos relacionamentos com os objetos em geral. Tal atitude já pode ser contemplada nos primeiros anos de vida, em que o bebê imita um sorriso, um balbucio, até chegar, mais tarde, à aquisição da linguagem. Tal processo dar-se-á continuamente ao longo da vida do ser humano, contudo, propende a tornar-se, em grande medida, inconsciente.  


MARTINS, Andressa Pires (et al). A Lei Paterna e o Paradigma na Construção da Identidade em Crianças e Adolescentes. Relatório Final de Pesquisa Docente, Núcleo de Estudos e Defesa de Direitos da Infância e da Juventude (NEDIJ), Universidade Estadual de Maringá, 2010.


[1] Citam-se aqui, a proibição do canibalismo, do incesto e do desejo de matar. E torna-se válido dizer que, com o tempo, novas regras começam a aparecer; a princípio derivadas dessas primeiras. No decorrer da evolução, surgem novos arranjos sociais e, portanto, novas exigências e necessidades de normas e é entre elas, que emerge com força a lei sobre a propriedade. Contudo, fica essa idéia a titulo de informação, pois não é este o foco dessa pesquisa.
[2] LAPLANCHE, Jean e PONTALIS. Vocabulário de Psicanálise. Tradução Pedro Tamen, 4. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 226.
[3] FREUD, Sigmund. Psicologia de Grupo e a Análise do Ego (1921/1969). In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
[4] FREUD, Sigmund. Idem.
[5] A palavra imago se refere a uma representação inconsciente que uma pessoa tem de outrem, não devendo ser entendida necessariamente, como um reflexo do real. De acordo a definição de Laplanche e Pontalis, seria um “Protótipo inconsciente de personagens que orienta seletivamente a forma como o sujeito apreende o outro; é elaborado a partir das primeiras relações intersubjetivas reais e fantasísticas com o meio familiar” (2008, p. 234).
[7] BENNER, Charles. Noções Básicas de Psicanálise: Introdução à Psicologia Psicanalítica. 2. ed. Rio de Janeiro: IMAGO Editora, 1973. 

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